Músicas de Joésia Ramos
Poemas de Maria Cristina Gama
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Letras de Músicas
Levante-se Amor
Levante-se Amor,
porque a meta já espera
o jorro dos plurais singulares
amarrando égua ao meu cavalo
e lua ao meu sol.
E tanto hífen de vice-versa
que já eu pulo sobre o horizonte perfeito
dos seus divinos seios
e a divina seiva
elaborada dentro do tronco
sou eu tórax de madeira, areia, vento.
Texto: Nuno Fernandes Torneol – Séc. XIII,Canção de amigo, em galego-português
Voz: Maria Lúcia Dal Farra
A Chave
Joga fora a chave
e aí você se encontra
na porta sem chave e a porta abre
como um anel
num dedo que você perdeu
e o dedo é seu.
Apanha esta senha
apanha e venha
pro reino difícil
da arte do orifício,
sem buraco de fechadura
com a cara dura tão mole
de tanto sorrir e ir.
Venha, não apanhe lenha
e deixe esta fogueira queimar,
atenha-se ao essencial: amar.
Aprenda a não ter chaves consigo
além do seu umbigo.
Sânscrito
Amor, vou esconder as minhas mãos
debaixo das tuas
para nunca mais escrever poemas de amor.
Vou empinar o peito
para que não se coagule
o sangue derramado do meu coração
numa posição iogue.
E pacificamente vou entoar
o mantra de um
até que tu voltes.
Palhaço
A Dante Ladines
Palhaço pintado do nácar das ostras
e do borbulho efervescente do meu sangue.
Palhaço plangente, aramista
funâmbulo de sonâmbulo
de viver sonhando acordado
numa trilha do meu trem, amém!
Amei bailados e bailarinas
e o circo inteiro e o tabuleiro
e a vinícola
e a canícula.
E o tempo bom e o tempo sempre tão bem
e o tempo bem!
Amo assim seguindo
com as mãos e os pés de esgrimista
pelo todo que no coração não se contém.
E ao zero fui no globo da morte
com leões também.
1000 Cavalos Rimados
Eu caminho sob o sol
e não há nada que impeça seu raio
de entrar dentro de mim.
E assim quando a lua se dá
eu caminho sob a lua,
enluada
firme do sol apanhado.
Considero as marcas dos meus pés
grandes sinais que me abrem caminhos,
indicando obstáculos
por onde passo
de lua e sol plenamente amados.
E lá longe,
quando o cume das distâncias
é perfeito e se insinua,
eu tenho a pele curtida
de um céu sob o qual tenho vivido e andado.
Ando o passo que amo
amo o passo andado,
cavalos
sob o que rimam?
1000 cavalos rimados.
Os Dias
Quem ama cascas
não me interessa:
amo sumo, seiva, música
o toque da última hora
o último olhar
o primeiro beijo.
A luz do dia quando as cores do céu
o brilho do sol
o café, o pé
o tronco, o tronco
a árvore, o membro
os dias.
Sete
Ai, sete setas
os certos certos que me amem
amém.
Os dardos de outros
as outras setas
os mesmos sete.
Duas vezes elevada a espada em riste
e os pesos mais leves
inclusive os cruzados os cruzeiros
e os cem anos
e as guerras e as trevas
e as pestes.
Setenta e sete
meu amor
tua serpente vedete
teu beijo no ar
tua fotografia com chiclete
teu tetê
teu laçarote.
Amarelo Blue
Uma flor amarela abriu-se em mim
como se a vida fosse importante
para os pássaros que simplesmente
cantam
e as violas são tão minhas.
Tudo é tão um
tão meu quanto seu
assim
de um amarelo blue
e nós somos felizes
Bolo de Fumaça
A Wally Salomão
Bola de fumaça
minha palavra de argamassa prende-a
dentro da bota de léguas
dos cadarços do meu destino.
Também o copo cheio de chá
e também o último e definitivo chão
onde dançam os tipos
tipificados
de suas culturas e países.
E eu só, lá, lar
amor pastor, diamante
dinamite amante.
Manto de Vênus
Vem saindo
Jesus sorrindo
e o abstrato
e eu absoluta
concreta saio
vou aos vales
onde me vale o que me cobre e me despe
e Vênus cobre com o manto do amor
e sons de Shiva
e nada e tudo além
aquém
amém.
Despedida
A felicidade não tem a língua carregada de
palavras
e os olhos enchem-se de sílabas
e tudo fica na linha da neblina
e chovem as lágrimas sobre o solo do ser
no zinco de subsolo da solidão.
E o olfato do último abraço
e o tato de entrelaçamento dos dedos
pelos medos
e a visão carrega seus livros não escritos
como um vulcão de brasas
dentro do coração.
Já Era
Certa vez mais encantada
com o rolar dos nossos tons
encontrei a música
namorando meus dons.
E pus o que quis dentro de você
e me preencheu de sons:
os mais que sou no varar dos sóis.
E tanto corre ao encontro do meu abraço
que lhe faço samba e sombra no mapa
onde a mina se esconde
e o tesouro que destino ao nosso laço.
Já era, meu bem,
já era,
e o doce maior
fará uma morte ao contrário.
Já disse, amor, não foi
não vire este avesso
já é mais muito mais
e ouça e ouço
seu novo tom, novo
dom, novo ritmo.
Cartão–Postal
Querida,
Paris é tudo o que eu quis.
Tem Arte, gente e beleza.
O Sena é belo.
Mas o Danúbio é belo também.
Amei Viena e agora amo Paris.
Gosto de andar no metrô.
Às vezes me perco.
Não tenho mais desespero.
A gente sempre acaba se achando.
Em todos os sentidos, rápido,
porém profundo.
Carinho.
Furo no Nada
Tem que bater no meu momento
o seu tempo
para acontecer
da luz
colar no escuro e brilhar profundo
imenso como o mundo
um tão pequeno furo no nada.
Uma semente de riso ou lágrima
que vira fruto e salva.
Oráculo de Manga e Caroço
Estação mais nova é hora agora
porque ontem te pariu.
Eu pude sentir teu grande ventre
sem mãe sem mal sem maio
e sal e sol
só o nada grávido
navio na água do rio.
Em todo raso fundo lago pavio
água fogo raios e os passos envio.
Oráculo de manga e caroço
e o ouro nos raios de sol
os bichos as patas as asas os bichos
o lado da casa
o outro lado do disco.
Um risco no diamante
um dia amante
a série a enumeração
o cisco e meus livros.
Texto: Nuno Fernandes Torneol – Séc. XIII,
Canção de amigo, em galego-português
Voz: Maria Lúcia Dal Farra
Kleber Melo: Tema de introdução para violão de aço.
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Joésia Ramos: vozes, violão, violão ny e viola caipira
Maria Lúcia Dal Farra: voz
Dinho Dog: baixo
Saulo Ferreira: violões aço e guitarras
Alexandre Abraham: trumpete
Du Silva: violão aço, guitarra e náná
Igor Brasil: guitarra
Rafael Jr. – Carlos Ezequiel: bateria
Júlio Rêgo: gaita
Pequeno: percussão, vasos, derbak, pandeirola, conga,
bongô e efeitos
Lito Nascimento: bandolin
Agradecimento a Vigú
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